Introdução teórica

Conceitos e definições que nortearam o trabalho

1. Jornalismo de dados

1.1. O conceito de “Jornalismo de dados”

O Jornalismo de Dados, também conhecido como jornalismo baseado em/guiado por dados é uma prática que emerge em um contexto de progresso tecnológico que permite uma ampla disseminação de informações no ambiente digital. Não há um consenso entre a definição do jornalismo de dados, que pode ser definido como um “fluxo de trabalho” em que dados - produzidos constantemente em diversos formatos, como textos, imagens e áudios - são passíveis de investigação jornalística, orientam decisões, fundamentam narrativas, análises e visualizações. Nesse contexto de grande produção de informações e dados, e de maior presença de ferramentas digitais, torna-se essencial inserir nos meios de comunicação o conhecimento de como lidar com essas ferramentas e enfrentar os desafios de uma sociedade cada vez mais “dataficada” (BOUNEGRU; GRAY, 2021; CENTRE, 2010; HERAVI et al., 2021; MEJIAS; COULDRY, 2019).

O Jornalismo de Dados também pode ser considerado um processo de refinamento do dado bruto, no qual habilidades provenientes de áreas como estatística, programação e design são incorporadas aos dados com o objetivo de agregar valor às informações e facilitar a comunicação sobre elas.

Figura 1. O processo do jornalismo orientado por dados (adaptado de: http://mediapusher.eu/datadrivenjournalism/pdf/ddj_paper_final.pdf)

Há ainda outras definições para Jornalismo de Dados, que se complementam. Coddington (2014) discorre que essa falta de consenso atrapalha a criação de “um corpo teórico mais estruturado para o segmento” MASTRELLA (2019). Mastrella (2019) em seu Trabalho de Conclusão de Curso apresenta algumas delas:

Segundo Howard (2014), “Jornalismo de Dados é contar histórias com números, ou procurar história neles. É tratar o dado como uma fonte para complementar os testemunhos humanos, as versões oficiais e de especialistas”. Para Trédan (2015), trata-se de uma prática baseada na “coleta, na análise estatística, na visualização de dados na Internet e no seu tratamento jornalístico”. Parasie e Dagiral (2013) falam em produção de conteúdos inovadores com base em “técnicas computacionais usadas para coletar, processar, analisar e visualizar conjuntos de dados”. Alguns teóricos optam pelo termo Jornalismo Computacional, como Hamilton e Turner (2009), que o classificam como “a combinação de algoritmos, dados e conhecimento das ciências sociais para complementar a função de fiscalizar do jornalismo”.

Desse modo, as definições de Jornalismo de Dados compreendem desde o JD como produto, bem como processo. Os produtos de Jornalismo de Dados fazem referência aos trabalhos com visualizações de dados (com gráficos, infográficos, mapas interativos ou não) e aplicativos web, enquanto os processos se referem ao fluxo de trabalho do JD, que incluem a coleta dos dados, organização e análise dessas informações, que podem ser feitas de maneira automatizada ou não, com uso de softwares de computador, linguagens de programação, calculadoras e outras técnicas (GEHRKE et al., 2021; ROYAL; BLASINGAME, 2015).

1.2. O início do jornalismo de dados

O Jornalismo de Dados tem suas raízes na Computer Assisted Reporting (Reportagem Assistida por Computador) e no Jornalismo de Precisão. O Jornalismo de Precisão foi criado por Philip Meyer. Enquanto trabalhava para o jornal estadunidense Detroit Free Press, Meyer produziu uma reportagem que se utilizou de um computador IBM para ser desenvolvida: por meio de análise de dados de um questionário, a matéria pode estabelecer relações entre os conflitos raciais na cidade de Detroit e fatores sociodemográficos da população. A contribuição de Philip Meyer para o desenvolvimento e popularização da técnica de jornalismo de precisão foi de grande importância para a evolução do jornalismo investigativo contemporâneo. É autor do livro intitulado “Precision Journalism: A Reporter’s Introduction to Social Science Methods” (Jornalismo de Precisão: Introdução dos Métodos de Ciências Sociais para Jornalistas), que se tornou uma referência na área (TRÄSEL, 2014; VENTURA, 2018; apud SILVA, 2019)

Figura 2. Retrato de Philip Meyer

Um dos primeiros usos da reportagem com auxílio de computador foi na eleição presidencial dos EUA de 1952, quando a rede de televisão CBS utilizou o computador UNIVAC na previsão do resultado (COX, 2000). Anos mais tarde, computadores nas redações se popularizaram com a popularização da tecnologia: de acordo com Garrison (2001), reportagens com o auxílio de computador faziam parte de cerca de 90% das redações de jornais com circulação de 20 mil exemplares em 1998 nos EUA.

AP

Apesar desses dois marcos na história do Jornalismo de Dados, estudiosos também atribuem o início do campo com Florence Nightingale (1820-1910), em 1850. Durante a Guerra da Crimeia (1853-1856), a enfermeira britânica ficou conhecida pelo seu trabalho em prol da melhoria das condições sanitárias e de higiene dos soldados feridos. Para tal, ela se valeu de seus conhecimentos em matemática e estatística, sendo que um de seus trabalhos mais notáveis foi a criação do gráfico estatístico conhecido como “Diagrama da Rosa”. Tal gráfico ilustrou a taxa de mortalidade entre soldados feridos durante a guerra em questão, e pode ser considerado um dos primeiros exemplos de jornalismo de dados, por empregar dados no processo de criação e no produto final, com a finalidade de comunicar informações (BRADSHAW, 2020).

Figura 3. Diagrama da Rosa

1.3. Jornalismo de dados no Brasil

Muitas organizações de mídia em todo o mundo passaram a investir em equipes de Jornalismo de Dados, e surgiram diversas iniciativas de treinamento e desenvolvimento de habilidades em Jornalismo de Dados. No Brasil, equipes de dados e cursos sobre o tema foram essenciais para o crescimento da área no país.

Na América do Sul, o Brasil teve um papel notável no desenvolvimento do jornalismo de dados. A introdução de computadores pessoais na rotina das redações se iniciou nos anos 80, no jornal Folha de S. Paulo. A tecnologia possibilitou ao jornal ser o pioneiro na informatização no processo jornalístico, sendo a “primeira redação informatizada na América do Sul” (SILVA, 2019). Junto com o Estado de São Paulo, foram os primeiros a implementar técnicas de Jornalismo de Dados na redação, por meio das reportagens assistidas por computador.

Ambos os jornais consolidaram suas equipes de dados em 2012: o Estadão Dados e o DeltaFolha. Cabe destacar o papel de instituições que fomentam e financiam as práticas jornalísticas para o desenvolvimento dessas equipes, como a parceria com o Knight Center for Journalism in the Americas, da Universidade do Texas em Austin, na criação do núcleo de dados do jornal Estadão; e com programa Knight International Journalism Fellowship, do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), que participou na elaboração do FolhaSPDados, em 2012, que futuramente serviria de base para a formação da equipe de jornalismo de dados da Folha, a DeltaFolha (S. PAULO, 2012; SOUZA, 2021; Folha2019?). Também é importante o papel dos treinamentos oferecidos pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e iniciativas como a Escola de Dados no letramento de dados em redações.(DE-LIMA-SANTOS, 2019)

Na história do JD no Brasil, um dos nomes que se destacam é o de Claudio Weber Abramo (1952-2018). Abramo foi um jornalista e ativista pela transparência pública, sendo um dos fundadores da organização Transparência Brasil, em 2000. Sua contribuição para o JD se dá em grande parte pelo fortalecimento do acesso à informação pública, essencial nos trabalhos com dados públicos, ou seja, em dados que deveriam ser disponibilizados publicamente para os cidadãos por entes dos governos federal, estaduais e municipais.

2. Cor, raça e racismo

2.1 O conceito de “raça”

O conceito de raça deriva da Idade Média, inicialmente utilizado com uma interpretação das noções de linhagem e ancestral comum. Posteriormente, com as “Grandes Navegações” do século XV, raça passou a classificar a diversidade humana, justificando relações de dominação e sujeição entre classes sociais, “pois foi destes encontros entre a”civilizacão” europeia e os índios americanos, os negros atricanos e os asiaticos que surgiu a necessidade de classificar e definir o que era e quem era a humanidade”(SCHUCMAN, 2012).

Com o Iluminismo, raça passou a incorporar uma interpretação biológica na categorização de povos distintos. Entretanto, a adoção das Ciências Naturais para explicar a diversidade humana acabou legitimando teorias raciais que hierarquizavam povos, e justificando a dominação europeia sobre povos de outros continentes, como a África e as Américas.

Foram estabelecidos critérios para essa classificação ao longo dos séculos. Inicialmente, a cor da pele era fundamental, e posteriormente foram adicionados critérios como formato do nariz, lábios, queixo, formato do crânio, entre outros.

De acordo com Almeida (2019):

“Conforme este raciocínio, as sociedades contemporâneas, mesmo após o fim oficial dos regimes escravistas, permaneceriam presas a padrões mentais e institucionais escravocratas, ou seja, racistas, autoritários e violentos. Dessa forma, o racismo seria uma espécie de resquício da escravidão, uma contaminação essencial que, especialmente nos países periféri-cos, impediria a modernização das economias e o aparecimento de regimes democráticos. No caso dos países centrais as marcas da escravidão poderiam ser vistas na discriminação econômica e política a que são submetidas as minorias raciais, como é o caso da população negra e latina nos EUA e dos imigrantes não-brancos na Europa”.

Segundo Abrahão (2010):

“As construções sobre a”raça negra” antecedem ao racismo na medida em que se valem da intencionalidade de construir a superioridade de “uns” em detrimento de “outros”. Em outros termos, foi a vontade da diferenciação que levou à necessidade de construção da “raça”.”

2.2. Cor e raça na população brasileira

No Brasil, algumas teorias tentaram explicar a formação do povo brasileiro. Uma delas foi a da “democracia racial”. O mito da democracia racial foi cunhado pelo sociólogo Gilberto Freyre nos anos 1930 e difundido por seus seguidores. De acordo com Freyre (FREYRE, 1933) refere-se a uma ideia que existiu no Brasil, especialmente ao longo do século XX, de que o país era caracterizado pela harmonia e pela igualdade racial, apesar das evidentes diferenças sociais e econômicas entre brancos e não brancos. Essa ideia sugeriu que as relações raciais no Brasil eram mais amistosas e menos problemáticas do que em outros lugares, como nos Estados Unidos, onde o racismo era mais flagrante e institucionalizado.

“Inspirada nos diários e registros de pessoas dos séculos XVIII e XIX e tendo como plano de fundo os canaviais nordestinos da época, Casa Grande & Senzala (1933) retrata a formação do povo brasileiro por meio da miscigenação harmoniosa entre as três etnias que habitavam o país: índios, portugueses e africanos. Tal visão defendida por Freyre (2004) pode ser apresentada sob a ideia de uma”democracia racial”, que fazia com que as relações escravocratas no Brasil fossem amenizadas, em comparação com as dos Estados Unidos, que, de acordo com ele, eram bem mais severas”. (SILVA; OLIVEIRA SILVA; SILVA NASCIMENTO, 2014)

O mito incorporava a miscigenação entre diferentes grupos étnicos, o que tornava a sociedade brasileira, na teoria, menos propensa ao racismo. Segundo Santos (Santos2018?):

“Trata-se de uma visão de mundo que reinventa o país, visto que revela a possibilidade de convivência dos diferentes grupos socioculturais (europeus, africanos e indígenas) então residentes dentro das fronteiras político-geográficas brasileiras. Deve-se lembrar de que até as primeiras décadas do século XX uma questão polarizava o debate político brasileiro, a saber, a constituição de uma nação unitária e progressista, baseada na lógica da mestiçagem”

Como um mito, a democracia racial não se mostrava na realidade. Lélia Gonzalez foi uma das críticas ao “discurso dominante” da democracia racial(GONZALEZ, 1984). De acordo com (Hortz2022?), citando Lélia:

“(...) esse”discurso dominante”, no termo de Gonzalez - sintetizado na noço de “democracia racial” - obstaculizou a percepção e o combate em torno das discriminações e exclusões raciais na sociedade brasileira, ainda mais quando consideramos que ele se torna uma “imagem de Brasil” oficializada e promulgada pelo Estado, não só em âmbito nacional, mas também internacional.” (Hortz2022?)

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínuado realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2022, a população negra compõe 56% do total de habitantes brasileiros (IBGE, 2022). Mesmo sendo maioria, em proporção, da população brasileira, negros ainda são oprimidos em diferentes esferas, como herança das teorias raciais que justificavam a sua dominação´.

Segundo pesquisa da ONG Oxfam denominada “A distância que nos une – Um retrato das Desigualdades Brasileiras” (BRASIL, 2017), usando dados da PNAD Contínua do IBGE, o rendimento de negros é menor do que o de brancos em todos os níveis educacionais. Cargos gerenciais, normalmente associados à liderança, são ocupados majoritariamente por brancos: cerca de 69%

Por outro lado, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes também reforça a desigualdade racial. Enquanto para uma pessoa branca a taxa é de 11,5, para pretos o valor é de 21,9 e pardos, 34,1 (IBGE2020?). A taxa de analfabetismo de pessoas negras é mais que o dobro da taxa da população branca em diferentes faixas etárias (IBGE, 2022).

Essas estatísticas apenas resumem como o “racismo a brasileira” que tem sua existência, de acordo com Antônio (2015),

“fundada em sistemas de ideias, teorias, discursos e ações articulados pelo pensamento único, pela cristalização e pela naturalização ativadas historicamente pelas políticas e ideologias de cordialidade no âmbito das relações raciais; pelo mito de democracia racial, pelas políticas e ideologias de branqueamento; pela branquitude universalizada e, para fechar o sistema, pelas perversas políticas de silêncio e de ignorância pré-estabelecida em torno do debate e da superação do racismo à brasileira”. (ANTONIO, 2015)

2.3. Raça e imprensa

A grande imprensa brasileira também reflete a desigualdade social marcada pelo racismo. O estudo do grupo GEMAA "Raça, gênero e imprensa: quem escreve nos principais jornais do Brasil?"(PORTELA et al., 2023) explora os dados de cor e raça da redação de três jornais brasileiros (O Globo, O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo), e também se aprofunda em outros recortes, como idade e gênero da equipe editorial desses veículos. O relatório conclui que

A mídia brasileira continua reproduzindo padrões de forte desigualdade racial. Quando se trata da produção de notícias e circulação da informação, a discussão sobre desigualdades ultrapassa a questão da justa proporcionalidade e alcança o problema da invisibilização de grupos sociais na produção das narrativas e informações que instruem o processo de formação de opinião e os entendimentos socialmente partilhados”. (PORTELA et al., 2023)

3. Título e pauta

Então, se os negros estão sub-representados nas redações, como eles chegam e são representados nas notícias?

Pensando nessa questão, é interessante observar o papel dos títulos em uma notícia. Segundo o Dicionário de Oxford, “Título”, é o “nome ou expressão que se coloca no começo de um livro, em seus capítulos, em publicação jornalística, peça teatral, filme, música etc., que pode indicar o assunto ou simplesmente identificar, individualizar a obra ou o trabalho”. Desse modo, o título é o primeiro contato que o leitor, ouvinte ou espectador têm com a produção que vai experienciar.

No jornalismo isso não é diferente: O título de uma reportagem, independente do meio, deve atrair o leitor, “criando expectativas e provocando o objetivo final de fazer o leitor prosseguir a leitura do conteúdo e ser informado sobre a pauta abordada” (GOMES; COSTA, 2016; apud LAGE, [s.d.]). No jornalismo digital, um título atraente é responsável por cliques na notícia e aumentar o tráfego de um site e, consequentemente, garantir a visibilidade do conteúdo.

No Manual de Redação da Folha(2022) há um verbete sobre títulos:

“Títulos e subtítulos constituem o principal, quando não o único, ponto de contato de muitos leitores com a notícia. Sua formulação deve ser atraente e responsável, especialmente nas plataformas digitais, onde se perde a visão de conjunto. O enunciado ideal deve conquistar a atenção do leitor e revelar o objeto da notícia de forma clara e em poucas palavras.”(PAULO, 2022)

Página do Manual de Redação da Folha de São Paulo (Foto: Gabriel Guerra)

O título antecede a pauta, que também segundo o adotado pela Folha de São Paulo (2022), é o “primeiro roteiro para a produção de reportagens, não é uma simples ideia, mas um plano de ação” e considera “questões básicas a serem respondidas ao longo da apuração, enfoque, formato, hipótese de trabalho, material de apoio, imagens”.

Moraes (2022) conceitua a pauta como “a coluna vertebral da notícia, aquilo que dá forma ao conteúdo jornalístico oferecido ao público” e complementa, chamando atenção para um ponto de vista político da pauta:

A pauta vai enquadrar algo, a partir de um ou poucos olhares, que será compartilhado para um público mais amplo. Ela diz: algo está acontecendo e vocês devem saber.(…) Assim, tanto os elementos presentes na concepção de uma reportagem quanto aqueles que foram descartados são sempre escolhas políticas e, sim, também arbitrárias. Toda pauta organiza e desorganiza visibilidades e invisibilidades, toda pauta hierarquiza e desierarquiza vozes e representações, toda pauta estrutura e desestrutura discursos(MORAES, 2022).

Considerando esses apontamentos, é possível inferir que, no processo jornalístico, a pauta antecede o título para o repórter, mas o que chega primeiro ao leitor é o título. Assim, podemos reformular a questão feita anteriormente:

Importante

Se os negros estão sub-representados nas redações, como eles viram pauta nas notícias e quais títulos eles estampam nos portais e manchetes de jornais?

Diante dos conceitos e histórico apresentados, este trabalho se propõe a analisar notícias com abordagem racial publicadas pelo jornal Folha de São Paulo, de forma online, entre os anos de 2013 e 2022. Isso será realizado por meio de técnicas de Jornalismo de Dados e apresentado em um site com visualizações e análises de dados, mostrando as dimensões do JD como processo e produto.

Com cerca de 41 milhões de visitas no mês de outubro de 2023(similarweb?), o jornal Folha de São Paulo é uma das principais mídias informativas. Com tamanha repercussão, é possível acreditar que a maneira como representa pessoas negras pode impactar na forma como são tratadas na realidade.

Optou-se por analisar o período de 2013 a 2022, pois essa seleção permitiu a coleta de uma extensa quantidade de informações, as quais poderiam ser processadas por ferramentas de Jornalismo de Dados. Essa abordagem visa verificar o potencial dessas técnicas em investigações envolvendo objetos de estudo de grande escala.

Desse modo, este trabalho pretende contribuir para o debate sobre o uso de ferramentas de tecnologia e análise de dados no âmbito jornalístico, como forma de extrair informações e pautas a partir de um conjunto de dados. Utilizando de títulos de notícias como objeto de estudo, o trabalho também propõe uma maneira de avaliar a existência de padrões de cobertura, bem como fazer um histórico do que foi noticiado em um longo período de tempo, por meio de ferramentas automatizadas. Além disso, pretende-se questionar como padrões nos títulos podem corroborar ou evitar vieses na cobertura racial, o que é possível a partir de uma ampla base de dados.

4. Objetivos

O presente trabalho tem como objetivo geral analisar dez anos de cobertura racial pelo jornal Folha de São Paulo utilizando técnicas do Jornalismo de Dados

Como objetivos específicos, pretende-se:

  • Criar uma base de dados de notícias com temática racial do portal Folha de S. Paulo;

  • Analisar a base de dados criada com técnicas de Jornalismo de Dados, explorando o fluxo de trabalho com dados;

  • Discutir os achados por meio de uma narrativa com dados.

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